segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Nostalgia


Os devaneios de sábado à noite levaram-me a conclusão de que sou preenchida por saudade – diretamente do vigésimo sétimo andar de um arranha-céu na cidade das luzes –, sou preenchida por saudade e algumas expectativas frustradas de ser feliz. Não me entenda mal, não gosto de extremismos e bem sei que a infelicidade é quase inatingível pros meus vinte poucos anos. De fato sou feliz com meus dois gatos persas, minha estante de livros e minhas doses matinais de cafeína, diria até que posso tocar as estrelas daqui de cima, mas você sabe que elas não me bastam.

Quero voltar praquela cidade, sentir meus pés tocarem aquele chão. Quero voltar pro aconchego do interior e pros rostos que há tanto não toco, não sinto, não vejo. Quero respirar ares tropicais por entre vielas que me levam a lugar nenhum, sentar num banco familiar meia noite à luz da lua e jogar conversa fora no balcão daquele bar. Quero apreciar a arquitetura clássica da casa que me viu crescer, sentir os braços de quem muito me amou, comer o bolo da minha avó: sabor infância com cobertura de chocolate, que só aquelas mãos sabiam fazer.

Quero sentar no telhado da tua casa e falar sobre futilidades descartáveis, ouvir o timbre suave da tua voz, o som do teu violão que me canta palavras sinceras. Quero me perder nas entrelinhas dos teus versos e cantar o refrão mais bonito da tua canção mais nova. Quando o som das cordas cessarem quero sentir seus dedos passearem pelos meus cabelos claros, sentir o cheiro do teu perfume e olhar nos teus olhos azuis, esses pedacinhos de céu que um dia me viram partir.

Quão lindo seria reviver o palpitar acelerado do meu coração. Mas enquanto não temos a peripécia de inventar uma máquina do tempo, que o mesmo me perdoe caso seja inoportuno, se parecer loucura ou utopia, que me perdoe por querer voltar. É que talvez as lembranças sejam mais bonitas da janela do vigésimo sétimo andar.



Novidade e agradecimentos




Oi gente! Sem muita cerimônia, vim deixar um recado pra quem está acompanhando o blog. Quero agradecer as visitas que estão aumentando e os leitores que deixam recados carinhosos e de grande incentivo nos meus textos, tem sido muito satisfatório. Quero informar aos interessados, que a partir de agora estou escrevendo também para o Free Diamonds, blog lindíssimo de uma grande amiga minha. Que tal dar uma passadinha lá? Obrigada mais uma vez, beijão!

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Ela



Quem a vê tropeçando aos montes por aí afora, não desconfia que ela seja dona das palavras mais bonitas, ou que tenha os lábios mais doces que os lábios de outrem já ousaram tocar. Eu sei que o amor é injusto e que os tempos são outros, que as pessoas mudam, renascem, transformam-se e deixam um mar de lembranças para trás, mas a vida é um pulo e eu daria o mundo para tê-la de volta.

Eu não a amei por comodismo tampouco pelo charme de seus cabelos laranja, eu a amei com tamanha espontaneidade a ponto de duvidar da sensatez de minha mente e coração. Perdi o ponto de equilíbrio, deixei escapar as racionalidade estapafúrdias que me desprendiam de um amor sincero e utópico, preenchi meu ser com as reciprocidades de um sentimento puro e me vi escravo da presença dela. Metabolicamente dependente das batidas de um outro coração.

Suas madeixas ruivas me encantaram, confesso, mas meu amor estava no jeito como seus olhos se estreitavam quando sorria, no espaço discreto entre seus dentes incisivos e nas pernas compridas que inclinavam-se para trás quando relaxavam. Ela tinha o hábito de fazer caretas esquisitas quando se perdia em pensamentos, ainda assim seu rosto era doce e de feições angelicais. Eu admirava seu carinho pelos animais e a maneira como expunha opiniões sem medo. Adorava sua postura, o jeito como movia as mãos, sua cara fechada quando o time preferido perdia mais um jogo, o sotaque sulista ao chamar meu nome e as gargalhadas intermináveis, mesmo depois da meia noite. 

Ela era inverno e verão, espirituosa, introspectiva, menina, mulher, tempestade e calmaria. Uma contradição por si só, contudo um mar de transparência. Quem me dera, por uma fração de segundos sequer, poder mergulhar de novo em suas águas cristalinas e sentir meu corpo leigo deixar-se dominar pela imensidão azul de seu espírito. Quem a vê tropeçando aos montes por aí afora, não desconfia que do outro lado da cidade, alguém daria o mundo para tê-la de volta.