Antes de você as manhãs rotineiras de segunda eram frias e
cinzas, o cobertor de lã aninhava-se perfeitamente em meu corpo e me pedia pra
ficar só mais cinco minutinhos. Os míseros cinco minutos eram um piscar de
olhos sem você, amor. Botar meus pés sensíveis no assoalho gelado era torturante
só de pensar e eu acabava por perder o horário nas lutas diárias contra os
ponteiros apressados do despertador.
O caminho da portaria à estação de trem
era tão automático, desgastante. Os
mesmos rostos dizendo bom dia, a mesma brisa gelada da cidade tocando minhas bochechas,
o mesmo mau humor estampado nas faces de quem, assim como eu, tinha ciência da
papelada que enfrentaria nas próximas oito horas. Eu conhecia os milimétricos
centímetros daquele trajeto. O porteiro simpático que mantinha um caso com a moradora
do 201; a senhora do prédio ao lado que se sentava todos os dias no banco do
condomínio, para observar o movimento exacerbado das ruas; a cafeteria lotada
de engravatados com seus jornais; o barulho dos passos no asfalto e os carros
apressados nas avenidas.
Em uma dessas esquinas tumultuadas eu te encontrei,
com os óculos quadrados e a bicicleta azul-escuro, presente de seu avô. Você
tentava desviar dos pedestres distraídos, que assim como eu, não
respeitavam o limite entre a passarela e a ciclovia. Minha pasta foi ao chão
deixando escapar fichas e relatórios importantes, você me ajudou a recolhê-los
um por um com uma paciência admirável, não hesitou em abrir um sorriso lindo
que deixava à mostra o charme das suas covinhas. Ora, quem mais nessa cidade
abriria um sorriso sincero daqueles em plena segunda-feira, a fria e rotineira
manhã de segunda-feira, se não você?
Quando nos esbarramos naquela esquina,
amor, você bagunçou não apenas fichas e relatórios, mas também a vida dessa jovem
metódica e perfeccionista, que não sabia sair da linha, não sabia deixar-se
sentir, não sabia organizar sua pasta sem que os papeis estivessem perfeitamente
enumerados em ordem alfabética. Depois
de você, as manhãs de segunda-feira tem mais vida, o cobertor de lã cobre
nossos corpos enroscados que se aquecem com mais facilidade. O trajeto até a
estação de trem é mais bonito na garupa da sua bicicleta, amor. Nós desviamos dos pedestres distraídos, e
rimos dos rostos mal humorados que seguem seus caminhos no piloto-automático. Espero que
dia desses, num desses encontros casuais da vida, eles esbarrem em alguém que também
desorganize suas pastas.
10 comentários:
Ei linda, adorei o texto, muito criativo!
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Vem participar! :)
Beijinho.
gostei do texto, está ótimo! Tbm amo fotografia e sou tbm uma fotógrafa amadora, já seguindo! Se puder retribuir, bjs
mimosakawaii.blogspot.com.br
@Chez Simões Oi Chez! Obrigada pela visita e pelo comentário. Já estou te seguindo viu? Beijos
@Lari Mayumi Obrigada Lari, de verdade! Gostei bastante do seu blog e já estou seguindo de volta! Ele trata de vários assuntos com que me identifico, vou continuar acompanhando. Beijos e obrigada pela visita
Olá querida adorei seu post, indiquei teu blog ao selinho clica no link e segui as regras, super beijos! :D
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@Amanda Goudinho Oi Amanda! Obrigada querida, já segui de volta e vou continuar acompanhando o blog, beijão
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